23 de nov. de 2007 | Tudo que se vê.
Tarde de sexta-feira, todos afoitos pelo fim de uma rotina, que por ironia, não tem fim.
Seus olhos, como sempre, procuravam absorver cada enigma, cada essência, cada minucioso detalhe. Observar, era seu passatempo predileto. Perceber, sem ser percebido.
Olhos que enganam, ou que tudo vêem?
Pregou os olhos em um homem. Feições comuns.
Nenhum traço era tão acentuado para chamar tanto a atenção. O que lhe intrigava em suas feições, era a maneira, como transformavam-se rapidamente em rabiscos confusos.
Via o tédio e o cansaço envolto em cada traço de seu rosto, mas ao mesmo tempo sua boca exalava sorrisos extasiados, e ao mesmo tempo tranquilizadores. Os olhos eram como duas bolas de ferro pesadas, sujas de poeira. Par de olhos que carregavam imagens, mais do que podiam suportar. Seriam imagens reais?
Interrompeu a observação por um instante, ignorando a última ocorrência que lhe passara pela cabeça. O conforto só seria possível aos olhos daquele homem, se ele os fechasse.
Intrigou-se, afinal, pela primeira vez em todas suas observações costumeiras, algo lhe escapara do senso comum. As faces que lhe passavam pelos olhos todos os dias, eram mais claras. Embora também não fossem extremamente objetivas e possuíssem fortes contradições.
Mas contradições sempre foram habituais, vive-se em volta delas, a contradição não lhe intrigava por este fato. O que tinha lhe intrigado, era a percepção da realidade.
Os olhos carregam tudo que vêem, ou tudo que sentem?
Os olhos vêem tudo o que sentem, ou tudo o que se vê? O que realmente se passa por um par de olhos? O que diabos seria a verdadeira realidade?
Tomou um gole de café, desceu-lhe áspero pela garganta o gole que tomou, tornando real o fogo ilusório que havia criado em suas entranhas. Retirou da carteira algumas notas de dinheiro, e em seguida soltou-as na mesa, encaminhando-se em direção às portas. Resolveu não observar mais nada ao seu redor, apenas deixar que a brisa de fim de tarde lhe acariciasse o rosto, trazendo consigo a ilusão do conforto.
Precisava decifrar o enigma, descobrir em que realidade vivia, e se tudo que passava pelos seus olhos todos os dias, não passava de um olhar oculto do que apreciava. Bateu as portas de entrada do quarto escuro, com a obsessão da descoberta impregnada em sua mente. Em um acesso de loucura, agarrou uma pequena faca, e viu-se parado em frente ao espelho, e antes de atingir o êxtase, fez uma última pergunta: "Olho que tudo sente, ou que tudo vê?"
Agarrou a pequena faca, apertando-a contra a parte inferior de seu olho esquerdo, sentiu a dor, como se houvesse se espatifado em pedaços. Empurrava cada vez mais para baixo dos olhos, aquele pequeno objeto metálico, sentindo a lâmina cavar-lhe os olhos e o sangue escorrendo pelo seu rosto.
Até que houve um baque, que ecoou pelas paredes do quarto. O som prosseguiu, algo rolava suavemente pelo chão, enquanto agonizava. Chorava lágrimas de sangue, até tomar-se por um choque. Com o olho que lhe restava, pôde observar uma cópia, de mesma cor, e de mesmo brilho. O olho o observava, e parecia lhe dizer: "Olhe para si mesmo, o que consegue enxergar no vazio? Não há mais nada que você possa contemplar com este olho vazio, pois nele não há mais espaço para guardar as figuras estampadas que você carimba todos os dias na rua à procura da sua própria figura. E agora eu finalmente a vejo, e lhe digo, que a sua realidade é tudo aquilo que se vê e não tudo aquilo que se sente."
E com um último suspiro, sentiu a realidade lhe fechando, a resposta para a sua obsessão.
Sentiu as pálpebras do olho que lhe restava se fecharem, e lembrou-se do último pensamento que lhe passara pela cabeça naquele boulevard de esquina: "O conforto só seria possível aos olhos daquele homem, se ele os fechasse."
Tarde de sexta-feira, todos afoitos pelo fim de uma rotina, que por ironia, não tem fim.
Seus olhos, como sempre, procuravam absorver cada enigma, cada essência, cada minucioso detalhe. Observar, era seu passatempo predileto. Perceber, sem ser percebido.
Olhos que enganam, ou que tudo vêem?
Pregou os olhos em um homem. Feições comuns.
Nenhum traço era tão acentuado para chamar tanto a atenção. O que lhe intrigava em suas feições, era a maneira, como transformavam-se rapidamente em rabiscos confusos.
Via o tédio e o cansaço envolto em cada traço de seu rosto, mas ao mesmo tempo sua boca exalava sorrisos extasiados, e ao mesmo tempo tranquilizadores. Os olhos eram como duas bolas de ferro pesadas, sujas de poeira. Par de olhos que carregavam imagens, mais do que podiam suportar. Seriam imagens reais?
Interrompeu a observação por um instante, ignorando a última ocorrência que lhe passara pela cabeça. O conforto só seria possível aos olhos daquele homem, se ele os fechasse.
Intrigou-se, afinal, pela primeira vez em todas suas observações costumeiras, algo lhe escapara do senso comum. As faces que lhe passavam pelos olhos todos os dias, eram mais claras. Embora também não fossem extremamente objetivas e possuíssem fortes contradições.
Mas contradições sempre foram habituais, vive-se em volta delas, a contradição não lhe intrigava por este fato. O que tinha lhe intrigado, era a percepção da realidade.
Os olhos carregam tudo que vêem, ou tudo que sentem?
Os olhos vêem tudo o que sentem, ou tudo o que se vê? O que realmente se passa por um par de olhos? O que diabos seria a verdadeira realidade?
Tomou um gole de café, desceu-lhe áspero pela garganta o gole que tomou, tornando real o fogo ilusório que havia criado em suas entranhas. Retirou da carteira algumas notas de dinheiro, e em seguida soltou-as na mesa, encaminhando-se em direção às portas. Resolveu não observar mais nada ao seu redor, apenas deixar que a brisa de fim de tarde lhe acariciasse o rosto, trazendo consigo a ilusão do conforto.
Precisava decifrar o enigma, descobrir em que realidade vivia, e se tudo que passava pelos seus olhos todos os dias, não passava de um olhar oculto do que apreciava. Bateu as portas de entrada do quarto escuro, com a obsessão da descoberta impregnada em sua mente. Em um acesso de loucura, agarrou uma pequena faca, e viu-se parado em frente ao espelho, e antes de atingir o êxtase, fez uma última pergunta: "Olho que tudo sente, ou que tudo vê?"
Agarrou a pequena faca, apertando-a contra a parte inferior de seu olho esquerdo, sentiu a dor, como se houvesse se espatifado em pedaços. Empurrava cada vez mais para baixo dos olhos, aquele pequeno objeto metálico, sentindo a lâmina cavar-lhe os olhos e o sangue escorrendo pelo seu rosto.
Até que houve um baque, que ecoou pelas paredes do quarto. O som prosseguiu, algo rolava suavemente pelo chão, enquanto agonizava. Chorava lágrimas de sangue, até tomar-se por um choque. Com o olho que lhe restava, pôde observar uma cópia, de mesma cor, e de mesmo brilho. O olho o observava, e parecia lhe dizer: "Olhe para si mesmo, o que consegue enxergar no vazio? Não há mais nada que você possa contemplar com este olho vazio, pois nele não há mais espaço para guardar as figuras estampadas que você carimba todos os dias na rua à procura da sua própria figura. E agora eu finalmente a vejo, e lhe digo, que a sua realidade é tudo aquilo que se vê e não tudo aquilo que se sente."
E com um último suspiro, sentiu a realidade lhe fechando, a resposta para a sua obsessão.
Sentiu as pálpebras do olho que lhe restava se fecharem, e lembrou-se do último pensamento que lhe passara pela cabeça naquele boulevard de esquina: "O conforto só seria possível aos olhos daquele homem, se ele os fechasse."

lua| 12:45 | 3 Comentários